Guilherme Sampaio

O Brasil velho e a máscara da cara nova

Veículo: Jornal O POVO, 18 de julho de 2019 .
Caderno Opinião
Assunto: “O Brasil velho e a máscara da cara nova”
Guilherme Sampaio (PT), vereador de Fortaleza

A voracidade do capital, movida pela ânsia do lucro incessante, já deu provas de sua ineficácia como propulsora da existência de um mundo justo e sustentável. Também já foi amplamente atestada sua imensa capacidade de adaptação, de encontrar e alargar caminhos que conduzam aos seus objetivos gananciosos. O Capitalismo sempre se reinventou para sobreviver.

Na política não é diferente. Os verdadeiros donos do poder (do dinheiro), salvo exceções, sempre preferiram delegar a terceiros sua condução da política, desde que esta estivesse alinhada aos seus interesses. Em raros casos de excessiva vaidade, ânsia de poder ou mesmo de vocações tardias, vão eles próprios para a linha de frente das disputas. Regra geral, não se expor mostra-se sempre mais vantajoso para os negócios.

Haja vista o desgaste do carcomido sistema político, essas duas características do capital – a ânsia infinita pelo lucro e sua imensa capacidade adaptativa – operam e se expressam, agora, através da voz, da inteligência e do talento de jovens lideranças.

Boa parte delas são selecionadas em processos similares aos de escolha de trainees e executivos de grandes corporações, em movimentos como Acredito, Agora, Renova BR e outros do gênero, todos financiados por grandes empresários.

Neste método, processos de seleção de lideranças são o pontapé inicial para uma capacitação “isenta” de futuros líderes políticos que contarão com o “generoso” patrocínio dos mecenas que anseiam pela tal “nova política”. Tem sido assim que bons garotos têm chegado às câmaras municipais, assembleias e ao Congresso, enfrentando velhas raposas que outrora representaram muito bem os interesses daqueles que agora os financiam.

Não me causa espanto, portanto, o voto majoritário destes novos representantes a favor de uma reforma da previdência que pretende retirar quase R$ 1 bilhão, em 10 anos, de pensionistas, pessoas com deficiência, agricultores, professores, autônomos de baixa renda, entre outros milhares de trabalhadores, para garantir, ao fim e ao cabo, que o Brasil continue igualzinho ao que sempre foi, mas de cara nova.”